sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Entenda a importância do acordo para a dívida americana

Para que cada um de nós individualmente tenha saúde financeira é necessário honrar nossas obrigações nos devidos prazos acordados, não é?

Esta é uma regra básica para pessoas, empresas e também governos de todos os países sem exceção. Não honrar os compromissos nos prazos implica em moratória ou insolvência que no caso de um país significa decretar ao resto de mundo que não existem recursos suficientes para liquidar suas dívidas e com isto escolher quem pagar primeiro o que em outras palavras abala a imagem e credibilidade de quem acreditou nesta instituição e investiu os seus recursos nela e não tem ou tem pouca perspectiva de recuperar seus recursos.

Muitos países já passaram ou estão passando por esta dificuldade, a exemplo da Grécia, México, Argentina, Brasil, e tantos outros, porém nenhum com tanta expressão mundial como os Estados Unidos que passou por um fio desta situação.

O Brasil passou pela moratória na década de 80 e muitos de nós ou nossos pais devem se lembrar muito bem dos tempos em que o Brasil ia ao FMI buscar recursos para pagar sua dívida e tinha que seguir uma receita de bolo que o FMI impunha para dar crédito ao Brasil honrar os seus compromissos. Também devem se lembrar os tempos que em o Brasil por não ter crédito internacional tinha que controlar as importações e desta forma a economia brasileira vivia sem dinheiro para investir em novos maquinários e produzir produtos tecnologicamente mais avançados e nem mesmo tinha recursos para importar estes produtos. Era como um isolamento do Brasil ao resto do mundo em tempos de globalização mundial.

O custo da moratória para o Brasil foi a recessão econômica prolongada, o atraso tecnológico do nosso parque automotivo (que chegou  a ser chamado de “carroça”), de produtos de informática, brinquedos eletroeletrônicos entre outros e do sucateamento da industria nacional além de outros efeitos que duraram mais de 20 anos de austeridade fiscal para que a economia pudesse se recuperar  e chegar ao estágio atual onde o Brasil é um dos principais países investidores nos títulos americanos atrás apenas da China, Japão e Reino Unido.

E porque tudo isto aconteceu aqui no Brasil?
Basicamente porque os governantes da época não se importaram com o equilíbrio fiscal onde as receitas de impostos devem ser iguais as despesas do governo, desta forma aumentando a dívida publica. Como a moeda brasileira não tem tramite internacional, existia a necessidade de contratar empréstimos externos para suportar os gastos com a importação (pagos em moeda estrangeira) e que em seu momento, no vencimento destas dividas contratadas o país não tinha recursos para honrar esta dívida o que causou a moratória brasileira.

E nos Estados Unidos, o que aconteceu?
Déficit publico é a dívida publica ou gastos além das receitas, onde quando existe a necessidade de buscar recursos no mercado o governo emite títulos chamados Treasury Bonds que são vendidos no mercado e outros países que tenham excesso de recursos em dólares investem em títulos do governo americano,que até então é considerado o mais sólido investimento no mundo.

Durante a década de 90, os Estados Unidos tinha uma pujança econômica importante além de ter seu déficit publico controlado. Porém com os gastos com as guerras (Iraque e Afeganistão entre outras) e posteriormente com a injeção de recursos no mercado financeiro para ajudar os bancos e empresas que literalmente quebraram em 2008 aprofundaram esta crise de endividamento.

Este endividamento tem um limite regulado pelo congresso americano para garantir sua solidez, e o descontrole sucessivo das contas publicas americanas levou o endividamento ao limite máximo e sendo assim, como o governo continua gastando mais que arrecada teria que iniciar um movimento de moratória parcial, onde somente poderia saldar uma parte desta dívida.

Imagine o impacto de um país como os Estados Unidos não honrar a sua dívida?
O mundo todo sofreria este impacto devastador na economia mundial, daí a necessidade de serem negociadas novas regras para este endividamento, ou seja, um novo limite aprovado pelo congresso americano, o que a principio é só uma medida paliativa, e temporária, pois a continuar o déficit crescente este novo limite também será alcançado.

Serão então necessárias medidas estruturais de redução no déficit americano, o que implica em redução efetiva de gastos, o que é uma medida recessiva para a já frágil economia americana, para o emprego, e para o mundo que terá menos recursos oriundos dos Estados Unidos para ajuda humanitária e investimento, além de uma possível elevação dos impostos.

A economia americana passa agora por uma encruzilhada semelhante a que o Brasil passou por décadas onde uma falta de credibilidade na recuperação da economia pode gerar aumento dos juros a pagar, e aumento dos juros desacelera a economia que ainda procura respirar após a crise de 2008. Isto sem considerar que a redução do investimento externo e a redução de compras do exterior no caso dos Estados Unidos pode encadear uma recessão mundial, por isto é importante ficarmos todos atentos pois as medidas adotadas para sanear a economia americana terão certamente impacto no mundo todo.

Vanderlei Corral













Vanderlei Corral: Consultor, Economista e Coach pela
Controladoria, Finanças e Gestão Estratégica


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